quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Pinhões do Carnaval 28/02/2010

Texto publicado no jornal Tribuna dos Lagos, Dois Vizinhos, Paraná.

Até parece mais uma brincadeira de Carnaval – uma grande folia de Carnaval. Mas infelizmente não o é.
Nesta sexta-feira 26 de fevereiro fui viajar à trabalho para Santa Catarina e quando passava pela região de Clevelândia durante o meu deslocamento de Pato Branco à Palmas, percebi diversas barracas, às margens desta rodovia, vendendo algo em sacolas plásticas azuis – todas iguais, dezenas de barracas, com dezenas de sacolas.
Imediatamente, me ocorreu: o que estarão vendendo? Parecia com Pinhões, contudo pensei:...estamos em Fevereiro, e o período de Pinhões é a partir de Maio (abril para os que não esperam a pinha amadurecer de forma adequada). Segui minha viagem com esta inquietação, pois tinha horário a cumprir.
Em meu retorno a Dois Vizinhos neste sábado, passando por aquela mesma rodovia, novamente ali estavam as barracas vendendo suas sacolas azuis. Então, decidi parar e averiguar do que se tratava e para o meu espanto, realmente eram Pinhões – Sementes da Araucária (Pinheiro do Paraná). Pinhas bem maduras e Pinhões bem formados.
Permiti brincar e indagar à vendedora, se não era muito cedo para vender os pinhões e se isso não prejudicaria a preservação da natureza e ao reflorestamento da Araucária, em sua forma simples, ela me falou que eles estavam vendendo as pinhas que estavam caídas ao chão. Sem o objetivo de questionar sua resposta segui minha viagem.
Como sempre faço, utilizo minhas horas a frente do volante para – alem de prestar atenção à estrada – pensar sobre os assuntos de minha profissão. E cheguei a seguinte conclusão: se eu tinha duvidas sobre as alterações climáticas e sobre todas as mudanças que isto determinará no equilíbrio do meio ambiente, agora já não as tenho.
Independente de Protocolo de Quioto (um grande fracasso para a preservação ambiental), independente das variações de temperatura que estamos experimentando, nosso planeta e nossa natureza, encontram-se em um processo de mudanças profundas, com novas condições e adaptando-se a estas novas realidades climáticas.
Tais mudanças trarão consequências ambientais, sociais e principalmente econômicas catastróficas.
Para as questões ambientais, por exemplo, podemos através de este exemplo ver a força/poder da natureza em se adaptar; para as questões sociais, haverá mudanças nas culturas, tradições e ciclos produtivos do homem do campo; e nas questões econômicas, tais alterações ambientais determinarão perdas e alterações nos processos produtivos agrícolas que causaram perdas significativas e declínio do Lucro final.
Como isso ocorrerá: o pinhão serve de alimento para vários pássaros e animais, que alem de alimentar-se, alimentam também a sua prole, contudo se não há pinhão, estes pássaros e animais terão sua sobrevivência prejudicada ou mesmo comprometida. Sem estas aves e animais (inimigos naturais dos insetos), responsáveis, em outros períodos pelo controle da proliferação de insetos (lagartas), estes últimos se disseminarão de forma livre e em escalas nunca vistas, aumentando então as pragas que sem seus inimigos naturais, estarão livres para atacar as culturas agrícolas.
Para controlas estas possíveis pragas, o agricultor deverá aumentar a quantidade de insumos químicos (defensivos agrícolas), aumentando a quantidade de “veneno” ao nosso cardápio. Aumentando a quantidade destes químicos, algumas pragas e insetos (de acordo com a Lei da Natureza) adquirirão maior resistência aos produtos químicos, além de que muitas aves e animais intolerantes a estes produtos químicos poderão sofrer contaminação e morrer, diminuindo ainda mais os inimigos naturais destes insetos e pragas.
Este é um ciclo produtivo e de desequilíbrio ambiental e econômico, que o homem exploratório, ainda não desenvolveu consciência, ainda não compreendeu e que continua pagando por isso.
Como poderemos reverter este processo? Talvez ainda possamos, mas para isso precisamos não de novas Leis, mas precisamos fazer as Leis acontecerem, precisamos de profissionais da área ambiental, atuando em todas as unidades poluidoras, precisamos de engenheiros ambientais que ajudem a combater e diminuir as fontes de emissões de poluentes químicos, precisamos de um sistema de governo atuante, precisamos de mais agentes dos Órgãos Ambientais atuando e controlando esta exploração imprópria, precisamos de empresários conscientes, precisamos de produtores que preservem as nascentes, as margens dos rios e outras reservas florestais, pois nelas habitam os agentes controladores das pragas, já que elas servem também de filtros para o controle da poluição, tanto aérea (sequestro de carbono), quanto superficial terrestre (retenção do escoamento de águas e sólidos superficiais).
Pinhões em Fevereiro, sem duvida esta é a maior FOLIA que o Carnaval nos reservou, a maior FOLIA que prova a ação destruidora do HOMEM sobre o meio ambiente e suas próprias vidas. Até quando seguiremos nesta mesma “marchinha”?

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