quinta-feira, 16 de outubro de 2008

valor das florestas


Mundo perde mais com florestas do que em crise



Relatório projetou que se perde mais dinheiro com o fim das florestas do que com a crise financeira

Amália SafatleDe São Paulo

Dizem que só as crises promovem mudanças profundas. O colapso do mercado financeiro e a retração econômica que se avizinha podem até atrapalhar momentaneamente o desenvolvimento de uma economia mais sustentável, baseada no consumo e na geração de empregos e de renda ambientalmente amigáveis.

Mas outra leitura é de que a crise não colocou só valores inflados em patamares mais concretos, como as idéias em seus devidos lugares. Um pouso um tanto acidentado - e ainda em curso -, mas que já conduziu a sociedade à terra firme e abriu os olhos, de pelo menos parte dela, de como a economia não pode se descolar de suas bases reais, sendo que a mais real delas é a ambiental, com seus recursos e espaços limitados para produção, consumo e descarte. Nem mais, nem menos.

E aí, quem sabe, a economia finalmente se ajuste a esse espaço determinado e molde suas formas de operar em consonância com os ciclos naturais. Tudo isso irá demandar um novíssimo desenho econômico, novas habilidades, novas tecnologias, novas funções, novas valorações.

Com base no Relatório Stern, que em 2006 projetou as perdas causadas pelas mudanças climáticas, uma equipe do Deustche Bank, por exemplo, acaba de calcular que a economia global está perdendo mais dinheiro com o fim das florestas do que com a crise financeira. E pior: continuamente.

O estudo, realizado a pedido da União Européia, e batizado de Economia dos Ecosssistemas e Biodiversidade, conclui que as perdas com desmatamento vão de US$ 2 trilhões a US$ 5 trilhões a cada ano, enquanto se estima que Wall Street tenha perdido entre US$ 1 trilhão a US$ 1,5 trilhão até o momento. Os cálculos foram feitos a partir dos serviços ambientais prestados pelas florestas, como regulação do clima, estoque de biodiversidade e produção de água.

Para formar uma geração apta a viver sob essa nova economia, e sobreviver em um mundo mais complexo, acaba de ser lançada uma iniciativa pela Consumers International, uma entidade de defesa do consumidor que congrega 220 organizações de 115 países, entre elas o Instituto de

Defesa do Consumidor (Idec).

A idéia é que os governos de todos os países adotem dez diretrizes para implantar uma educação para o consumo sustentável junto a crianças e jovens. Mas Lisa Gunn, do Idec, salienta que o consumidor não pode ser unicamente responsabilizado e deve dividir essa carga com a iniciativa privada - a quem cabe ofertar produtos e serviços mais sustentáveis e informar o consumidor sobre essas características - e também com o governo, a quem cabe colocar em prática políticas públicas que incentivem produções mais limpas.

A educação das novas gerações para a sustentabilidade não só vai criar um mercado consumidor para alimentar uma economia mais sustentável, como pode gerar um conhecimento a ser aplicado na própria produção da iniciativa privada.

Um exemplo disso já está aí. Pergunte aos universitários. A Airbus acaba de lançar o concurso internacional "Fly Your Ideas", pelo qual desafia estudantes do mundo todo a desenvolver novas idéias para aumentar a eco-eficiência do setor de aviação - grande emissor de gases de gases de efeito estufa - de forma a criar valor com menos impacto ambiental. Em troca, um polpudo prêmio de 30 mil euros para a equipe que apresentar a melhor idéia.

Os estudantes podem ser da graduação, mestrado ou doutorado e cursar qualquer disciplina. Mais informações sobre o concurso em http://terramagazine.terra.com.br/interna/www.airbus-fyi.com. De vez em quando é preciso colocar as idéias em terra firme para que elas possam alçar vôo novamente, de forma mais segura e mais sustentável.

Amália Safatle é jornalista e fundadora da Página 22, revista mensal sobre sustentabilidade, que tem como proposta interligar os fatos econômicos às questões sociais e ambientais. Fale com


Amália Safatle: amalia_s@terra.com.br