quinta-feira, 5 de junho de 2008

Verdades ate que ponto

Os inimigos da Amazônia estão aqui
Virgilio Viana Uma infeliz série de artigos, incluindo um publicado no jornal The New York Times, realimentou um fantasma que nos persegue há bastante tempo: o risco da internacionalização da Amazônia. Um dos poucos brasileiros que tinham a coragem de apontar para o equívoco desta "iminente ameaça à nossa soberania" era o saudoso senador Jefferson Péres, que, num dos seus últimos discursos, disse: "Não tenho tanto medo da cobiça internacional sobre a Amazônia. Tenho medo da cobiça nacional sobre a Amazônia, da ação de madeireiros, de pecuaristas e de outros que podem provocar, repito, o holocausto ecológico naquela região."Não creio que exista uma conspiração em curso com o objetivo de internacionalizar a Amazônia. A lógica é simples: os alegados interesses econômicos de outros países não precisam de tropas ou domínio estrangeiro para usufruir as riquezas da região. Basta ver o setor de mineração, com forte domínio de multinacionais, que lavram nossas riquezas à luz do dia, amparadas pela lei, em todo o território nacional, incluindo a Amazônia. Recentemente, uma licitação colocou nas mãos de um consórcio internacional a responsabilidade sobre a hidrelétrica de Jirau, que terá importância estratégica para a região e o País. Empresas multinacionais apóiam a produção de soja na Amazônia. Poderíamos falar sobre a participação estrangeira em setores estratégicos como telecomunicações, etc... Tudo isso sem a necessidade de nenhuma "invasão" ou "domínio" de outros países ou aquisição de terras por estrangeiros.Alguns enganos são realimentados pela imprensa e servem para nutrir o debate sobre a "internacionalização", que deveria ser periférico na discussão sobre o futuro da Amazônia. A frase atribuída a Al Gore não foi dita por ele, mas sim por um congressista norte-americano de pequena expressão. Os cadernos escolares americanos com o mapa da Amazônia excluída do Brasil nunca existiram de fato e foram montados por um site na internet. Existem muitos outros enganos repetidos de forma equivocada.O cerne da "questão amazônica" é outro e mais incômodo: os inimigos da Amazônia estão aqui mesmo, dentro do nosso país. Na sua quase absoluta totalidade, são brasileiros os que desmatam, produzem e compram madeira ilegal, plantam soja, promovem a grilagem de terras e assassinam líderes dos movimentos sociais. A ação do poder público brasileiro, salvo raras exceções, tem sido insuficiente para reverter esse quadro. Infelizmente, essa é a dura realidade. O problema está aqui, e não no exterior.A solução inclui quatro componentes principais.Primeiro, precisamos de um Projeto Nacional para a Amazônia que explicite o óbvio: desmatar é contra o interesse nacional. Das florestas amazônicas depende a chuva que irriga a agropecuária e abastece as hidrelétricas e as cidades em quase todo o Brasil. Soma-se a isto o potencial socioeconômico de produtos florestais, obtidos sob regime de manejo sustentável. O Projeto Nacional para a Amazônia deve seguir o exemplo das políticas de sustentabilidade do Amazonas, baseadas num princípio simples: a floresta deve valer mais em pé do que derrubada.Segundo, precisamos de políticas públicas eficazes e na escala correta. Sabemos como promover o desenvolvimento sustentável na região. Existem muitos exemplos de sucesso que precisam apenas ganhar escala. Faltam investimentos públicos e gestão eficiente.Terceiro, precisamos envolver a sociedade civil, universidades e o setor privado numa grande cruzada em prol da sustentabilidade do desenvolvimento da Amazônia. Devemos combinar os conhecimentos tradicional e científico, a criatividade e o empreendedorismo brasileiros a favor de um projeto nacional de sustentabilidade para a região.Quarto, devemos ser proativos no cenário internacional. O caminho é utilizar o interesse internacional a nosso favor, cobrando dos países desenvolvidos mecanismos financeiros que valorizem o papel de nossas florestas para a sustentabilidade do planeta.Buscar vilões estrangeiros é mais cômodo e simples, mas, infelizmente, não vai resolver o cerne do problema. O problema está aqui, na nossa cara. De nada adianta satanizar organizações não-governamentais, que, no geral, realizam ações positivas nos campos sociais e econômicos. Dificultar a participação de estrangeiros no desenvolvimento científico e tecnológico da região? Burrice. Deveríamos, ao contrário, fomentar parcerias e a cooperação inteligente. Proteger contra a biopirataria? O caminho é fomentar o desenvolvimento tecnológico e o de indústrias de biotecnologia na região. Deixar as florestas amazônicas fora do mercado de carbono? Não. Deveríamos defender a instituição de mecanismos de pagamento por serviços ambientais para remunerar as populações que vivem na floresta. Ao invés de optarmos por uma posição retranqueira e isolacionista, deveríamos ser proativos e propositivos no cenário internacional.Obviamente, reposicionar o debate sobre a soberania da Amazônia não significa que devamos negligenciar os interesses e movimentos de outros países na região. Temos de estar alertas. Existem, em toda parte, interesses escusos que devemos combater, especialmente o narcotráfico em áreas de fronteira. Felizmente, os militares representam o que há de melhor em termos de presença do Estado na região, ao desempenharem com competência sua função de guardiões do nosso território. Identificar os inimigos certos e nossas metas estratégicas é essencial para vencermos a batalha pela defesa da Amazônia. Nosso desafio é cuidar bem da sustentabilidade da Amazônia. Com competência e seriedade. Esta é a melhor arma para defendermos os interesses estratégicos e a soberania do Brasil na região. Virgilio Viana é diretor-geral da Fundação Amazonas SustentávelSite: www.fas-amazonas.org

2 comentários:

Marcelo Langer's blog disse...

Os inimigos da Amazônia estão aqui

Virgilio Viana

Uma infeliz série de artigos, incluindo um publicado no jornal The New York Times, realimentou um fantasma que nos persegue há bastante tempo: o risco da internacionalização da Amazônia. Um dos poucos brasileiros que tinham a coragem de apontar para o equívoco desta "iminente ameaça à nossa soberania" era o saudoso senador Jefferson Péres, que, num dos seus últimos discursos, disse: "Não tenho tanto medo da cobiça internacional sobre a Amazônia. Tenho medo da cobiça nacional sobre a Amazônia, da ação de madeireiros, de pecuaristas e de outros que podem provocar, repito, o holocausto ecológico naquela região." Voce nao acha que se este assunto fosse um equivoco o Governo Nacional Lula, nao estaria nas ultimas semanas manifestando-se na midia e promovendo reunioes com a copula do poder e cientistas para tentar desenhar novas estrategias para a questao? A cobica interna esta sendo desenvolvida por que ou por quem? Quem esta realmente permitindo que isso aconteca? respeitando e entendendo todas as dificuldades de manejo sustentavel da regiao.

Não creio que exista uma conspiração em curso com o objetivo de internacionalizar a Amazônia
(de fato nao ha uma conspiracao, a questao e fato - ja existe movimentos e acoes politicas por parte dos EUA e alguns partidos solidarios a ele para promover esta acao).

A lógica é simples: os alegados interesses econômicos de outros países não precisam de tropas ou domínio estrangeiro para usufruir as riquezas da região. Basta ver o setor de mineração, com forte domínio de multinacionais, que lavram nossas riquezas à luz do dia, amparadas pela lei, em todo o território nacional, incluindo a Amazônia. Recentemente, uma licitação colocou nas mãos de um consórcio internacional a responsabilidade sobre a hidrelétrica de Jirau, que terá importância estratégica para a região e o País. Empresas multinacionais apóiam a produção de soja na Amazônia
(considerando o exposto acima, este ponto nao confirma a intencao de dominio da amazonia? nao por suas belezas ou necessidades de preservacao, mas sim por suas possibilidades economicas - lembra a questao da patente genetica, ou veja a questao de quantas novas empresas farmaceuticas se instalaram no Brasil apos a nova Lei de Patentes Genetica? Qual e o interesse das empresas farmaceuticas? Preservar ou catalogar e decifrar as potencialidades curativas das especies para depois sintetiza-las?).

Poderíamos falar sobre a participação estrangeira em setores estratégicos como telecomunicações, etc... Tudo isso sem a necessidade de nenhuma "invasão" ou "domínio" de outros países ou aquisição de terras por estrangeiros
(esse texto e do Virgilio ou do politico Jefferson?).

Alguns enganos são realimentados pela imprensa e servem para nutrir o debate sobre a "internacionalização", que deveria ser periférico na discussão sobre o futuro da Amazônia. A frase atribuída a Al Gore
(a que frase o texto/autor se refere?)

não foi dita por ele, mas sim por um congressista norte-americano de pequena expressão. Os cadernos escolares americanos com o mapa da Amazônia excluída do Brasil nunca existiram de fato e foram montados por um site na internet. Existem muitos outros enganos repetidos de forma equivocada.
(isso e totalmente errado, eu vivi na europa, estive nos EUA e sei que as escolas ensinam seus alunos com livros em que a amazonia legal pertence aos EUA - este fato e comprovado)

O cerne da "questão amazônica" é outro e mais incômodo: os inimigos da Amazônia estão aqui mesmo, dentro do nosso país. Na sua quase absoluta totalidade, são brasileiros os que desmatam, produzem e compram madeira ilegal, plantam soja, promovem a grilagem de terras e assassinam líderes dos movimentos sociais
(e a policia, a Lei e os governistas que libertam os mandantes de qualquer acusacao, veja o caso da absolvicao do mandante de mandar matar a freira).
A ação do poder público brasileiro, salvo raras exceções, tem sido insuficiente para reverter esse quadro. Infelizmente, essa é a dura realidade. O problema está aqui, e não no exterior.
(se olharmos para as questoes de politicagem vou concordar com este item, pois todo o processo de miseria, pobreza e descaso aos moradores da amazonia e outras regioes proximas a recursos florestais, so trabalham e aceitam este tipo de trabalho por falta de opcao, nao e esse a nossa grande luta - capacitacao e melhoria das condicoes economicas, tecnicas e sociais da populacao ribeirinha? E isso tudo nao esta acontecendo porque? desvio de verbas, falta de plano e Leis que possibilitem o direcionamento dos recursos levantados pelos impostos para aplicacao e desenvolvimento de acoes que promovam a melhoria da qualidade de vida destas pessoas?)

A solução inclui quatro componentes principais.

Primeiro, precisamos de um Projeto Nacional para a Amazônia que explicite o óbvio: desmatar é contra o interesse nacional
(quem disse, nao defendemos o manejo sustentavel - ou estamos novamente aqui falando do engessamento de areas e que sabemos que essa impossibilidade de usar as proprias terras leva a buscar alternativas de sobrevivencia e que nesta busca o bandido tem melhores dentes).

Das florestas amazônicas depende a chuva que irriga a agropecuária e abastece as hidrelétricas e as cidades em quase todo o Brasil. Soma-se a isto o potencial socioeconômico de produtos florestais, obtidos sob regime de manejo sustentável. O Projeto Nacional para a Amazônia deve seguir o exemplo das políticas de sustentabilidade do Amazonas, baseadas num princípio simples: a floresta deve valer mais em pé do que derrubada
(concordo, e aqui se esta buscando o desenvolvimento da visao de que a amazonia nao da madeira - 50% das madeiras com idade exploraveis estao ocas - mas sim muitos outros produtos) .

Segundo, precisamos de políticas públicas eficazes e na escala correta
(concordo, porem mais do que isso precisamos de um sistema limpo, sem corrupcao). Sabemos como promover o desenvolvimento sustentável na região. Existem muitos exemplos de sucesso que precisam apenas ganhar escala. Faltam investimentos públicos e gestão eficiente
(re-afirma o que apresentei acima).

Terceiro, precisamos envolver a sociedade civil, universidades e o setor privado numa grande cruzada em prol da sustentabilidade do desenvolvimento da Amazônia. Devemos combinar os conhecimentos tradicional e científico, a criatividade e o empreendedorismo brasileiros a favor de um projeto nacional de sustentabilidade para a região
(sabemos disso a muitos anos, minha pergunta eh: por que isso nao acontece? ja sabemos a resposta, certo?).

Quarto, devemos ser proativos no cenário internacional. O caminho é utilizar o interesse internacional a nosso favor, cobrando dos países desenvolvidos mecanismos financeiros que valorizem o papel de nossas florestas para a sustentabilidade do planeta
(sera que esse e o caminho? Nao valeria mais a pena, programas de capacitacao de trabalho a fim de gerar produtos com valor e reconhecimento internacional ou mesmo nacional para ampliar a renda familiar local e assim promover o desenvolvimento sustentavel na forma de pequenos eventos organizados ao inves da escala em massa?).

Buscar vilões estrangeiros
(sera que os viloes estrangeiron estao sozinhos neste negocio? sera que os viloes brasileiros nao sao parceiros ou os mesmos do estrangeiro? - ok sei que mais de 50% da madeira ilegal da Amazonia fica no Brasil)

é mais cômodo e simples, mas, infelizmente, não vai resolver o cerne do problema(sera que nao?).

O problema está aqui, na nossa cara. De nada adianta satanizar organizações não-governamentais, que, no geral, realizam ações positivas nos campos sociais e econômicos
(mais de 50% da ONG nacionais sao de papel, apenas para agilizar "negociacoes e esquentar dinheiro").

Dificultar a participação de estrangeiros no desenvolvimento científico e tecnológico da região? Burrice. Deveríamos, ao contrário, fomentar parcerias e a cooperação inteligente. Proteger contra a biopirataria?
(estamos protegendo realmente?)

O caminho é fomentar o desenvolvimento tecnológico e o de indústrias de biotecnologia na região. Deixar as florestas amazônicas fora do mercado de carbono? Não. Deveríamos defender a instituição de mecanismos de pagamento por serviços ambientais para remunerar as populações que vivem na floresta. Ao invés de optarmos por uma posição retranqueira e isolacionista, deveríamos ser proativos e propositivos no cenário internacional.
(qual foi o retorno efetivo que as parcerias internacionais de pesquisa trouxeram para o Brasil? Qual foi o conhecimento gerado? Cito o caso de uma empresa no sul do Brasil, que apos 25 anos de parceria com uma Universidade da Alemanha nao apresenta niveis de satisfacao em termos de retorno - tanto que hoje esta empresa desenvolve pesquisas com a Univ regionais)

Obviamente, reposicionar o debate sobre a soberania da Amazônia não significa que devamos negligenciar os interesses e movimentos de outros países na região. Temos de estar alertas
(muito mais alertas do que imaginamos).

Existem, em toda parte, interesses escusos que devemos combater, especialmente o narcotráfico em áreas de fronteira. Felizmente, os militares representam o que há de melhor em termos de presença do Estado na região, ao desempenharem com competência sua função de guardiões do nosso território
(nao e muito perigosa esta colocacao?).

Identificar os inimigos certos e nossas metas estratégicas é essencial para vencermos a batalha pela defesa da Amazônia. Nosso desafio é cuidar bem da sustentabilidade da Amazônia. Com competência e seriedade. Esta é a melhor arma para defendermos os interesses estratégicos e a soberania do Brasil na região.

Virgilio Viana é diretor-geral da Fundação Amazonas Sustentável
Site: www.fas-amazonas.org

Guilherme Floriani disse...

Virgílio tem seu acerto, pois resolve tentar por a culpa em estrangeiros?

É preciso rever nossas ações, tanto públicas quanto privadas. O que inclui rever a relação existente e os papeis das instituições envolvidas com o problema da amazônia, ou seria da solução amazônia?

Parabéns pelo blog, que com certeza,terá a mesma qualidade das conversas e dos teus trabalhos.